quarta-feira, 15 de julho de 2009

Entre o aprisco e o curral (João 10.1-7)- Bispo Josué Adam Lazier

Encontramos figuras que são utilizadas metaforicamente para indicar a Igreja. Entre elas, a Igreja tem sido identificada como o aprisco onde as ovelhas se encontram, se aquecem e se protegem. No aprisco, considerando a perspectiva bíblico-teológica, as ovelhas conhecem o seu pastor. A figura do aprisco indica mais do que meramente um local onde as ovelhas se abrigam, indica a relação de confiança entre as ovelhas e o pastor. A palavra grega utilizada apresenta este sentido. “Parece ser um quintal na frente da casa, cercado por um muro de pedras que, provavelmente, tinha abrolhos em cima” (1).

Esta figura que indica algo simples e tão familiar ao povo da época é utilizada pelo evangelista João para ilustrar a relação de pastoreio de Jesus para com os discípulos (João 10.1-7). Assim, o autor bíblico descreve esta relação entre pastor e ovelhas.
As ovelhas sabem que o pastor quer o bem delas e sempre que se dirige a elas é para seu bem. As ovelhas não temem o seu pastor, pelo contrário, o respeitam pelo cuidado e pela dedicação que oferece indistintamente a todas elas.

As ovelhas ouvem a voz do seu pastor. Um pastor de ovelhas comentando este texto diz o seguinte: “quando o pastor as chama é com propósito específico; tem em mente o interesse das ovelhas. Não é uma coisa que ele faz só para se divertir ou passar o tempo” (2). Que palavras instigantes deste pastor quando afirma que o pastoreio no contexto do aprisco não é para divertimento do pastor ou passa tempo, mas pelo contrário, é para o bem das ovelhas.

A expressão elas ouvem a sua voz é uma das principais características do relacionamento entre o pastor e suas ovelhas. No versículo 3 é dito que as ovelhas ouvem a voz do pastor. O sentido da palavra é de prestar atenção, entender, aprender, pois a voz é conhecida. No versículo 4 é dito que as ovelhas reconhecem a voz. O sentido do termo utilizado é mais íntimo, expressando relacionamento, reconhecimento e respeito. Assim, as ovelhas seguem o seu pastor.

As ovelhas não seguem o condutor cuja voz não seja reconhecida. É importante destacar que a parábola contada por Jesus está cheia de afetividade e relacionamento pautado no respeito, na dignidade, na valorização, na busca pelo bem estar das ovelhas e cuidado extremo para com as que estão doentes. Não se trata de escutar e sim de conhecer a voz pela vivência.

Na parábola Jesus diz aos discípulos que Ele é a porta das ovelhas. O pastor sempre chega junto às suas ovelhas por esta porta que se abre e que não é arrombada pela força, pela arrogância, pelo desprezo, pela intimidação e pelo desamor daqueles que se utilizam da função do pastor. É o pastor de ovelhas que diz o seguinte para explicar esta relação entre o pastor e suas ovelhas: “não há nenhuma tensão nem violência neste relacionamento com o pastor de minha alma” (3).

O pastor guia as suas ovelhas, cuida de todas elas, vai atrás da que se perdeu, alimenta, protege e as conduz pelos caminhos seguros da vida. O ser pastor exige renúncia, humildade, amor, confiança, perseverança e doação, sem o que não se consegue conduzir as ovelhas.

Se não for segundo a perspectiva do aprisco, a Igreja pode ser identificada pela figura de um curral, lugar onde o gado é reunido para receber o sal, a ração e as marcas dos proprietários. Enquanto a figura do aprisco indica metaforicamente o encontro amoroso do pastor com suas ovelhas, o curral indica o local da “ração” para o gado, ou seja, onde metaforicamente as pessoas ruminam o “sal” ou a “ração” que lhes são oferecidos sem, no entanto, vivenciaram os aspectos que compreendem o aprisco.

O que diferencia a metáfora do aprisco para a do curral, é que nesta o “gado” recebe a ração e depois se dispersa de “cabeça baixa” para as pastagens, enquanto na primeira as ovelhas seguem o pastor pelos campos pulando altivas, como que brincando e “celebrando a vida”. Ou seja, no contexto do curral os membros da igreja são como o gado no curral e não como as ovelhas do aprisco. Isto faz uma grande diferença...

CITAÇÕES:
(1) RIENECKER, F. , ROGERS, C. Chave Lingüística do Novo Testamento Grego. São Paulo, SP: Edições Vida Nova, 1985, p. 178.
(2) KELLER, Phillip. Meditações de um leigo sobre o Bom Pastor e suas ovelhas – da perspectiva de um verdadeiro pastor de ovelhas. São Paulo, SP: Editora Vida, 1981, p. 36.
(3) KELLER, Phillip. Meditações de um leigo sobre o Bom Pastor e suas ovelhas – da perspectiva de um verdadeiro pastor de ovelhas. São Paulo, SP: Editora Vida, 1981, p. 58.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Igreja Metodista de Vila Isabel completa hoje 107 anos

UM PEQUENO HISTÓRICO DA IGREJA METODISTA DE VILA ISABEL

A Igreja Metodista de Vila Isabel teve seu início quando um grupo de operários, membros de duas igrejas da Zona Sul da cidade, foi transferido para o novo bairro de Vila Isabel, em 1898. Como não podiam ir até suas igrejas, começaram a se reunir em suas próprias casas.

Em 15 de junho de 1902, a igreja foi organizada oficialmente, pelo missionário americano Rev. J.L. Kennedy.

Durante vários anos ela se reuniu em casas alugadas, até que em 1910 adquiriu uma primeira propriedade, que foi adaptada para salão de cultos.

Em 1920 foi colocado à venda o grande terreno onde a igreja hoje se localiza. Foi realizada uma grande campanha entre os membros da igreja - todos pobres - e, com a ajuda da Junta de Missões Americana, foi adquirido o referido terreno. Em 1921 foi inaugurada a casa pastoral; em 22 de agosto de 1922, o templo e, em 1924, o Edifício Paroquial, destinado à Escola Dominical e a uma escola primária.

Em 1950, o templo, que já não comportava a congregação, foi reconsagrado ampliado, passando a acolher 450 pessoas sentadas. Também foram construídas novas salas, em sua parte posterior. Em 1965 foi iniciada a construção de um novo edifício, em lugar do antigo Edifício Paroquial. O novo prédio tem salão social, capela, cozinha, 11 amplas salas e um auditório para 200 pessoas sentadas.

Nossas instalações compreendem, ainda, uma quadra de esportes coberta (para vôlei, basquete e futebol de salão), instalações para zeladoria, sanitários e 4 outras salas.

Do trabalho missionário de Vila Isabel surgiram as igrejas de Inhoaíba, Lins, Penha, São João do Meriti e Chiador, no município mineiro que faz divisa com Três Rios e onde algumas famílias de Vila Isabel têm casa. Colaboramos, ainda, no estabelecimento de outras.
NOSSA IGREJA HOJE

A Igreja Metodista de Vila Isabel tem perto de 850 membros, dos quais 2/3 são mulheres.

Para cumprir a sua missão, existem 14 ministérios, nos quais as pessoas voluntariamente se alistam. Funcionam, ainda, a Escola Dominical, o Coral e as Sociedades de Mulheres, de Jovens e de Juvenis.

Os 14 ministérios são: Ação Administrativa, Ação Docente, Ação Social, Comunicação, Esportes, Família/Sociabilidade, Memória da Igreja, Missões e Evangelização, Música, Oração, Reforço Escolar, Santuário, Terceira Idade e Trabalho com Crianças. A Escola Dominical exerce as funções também que seriam do Ministério de Ação Docente e do Ministério do Trabalho com Crianças. As crianças têm trabalhos especiais durante a Escola Dominical e os cultos.

Mantemos uma Congregação no Grajaú e um Ponto de Pregação em casa de família.

Durante a semana temos trabalho com crianças e adolescentes carentes, que jogam futebol, lancham e recebem pequena aula de ensinos bíblicos. Há um curso de reforço escolar, no ensino básico, e classes para educação de adultos. As pessoas de terceira idade reúnem-se semanalmente para confraternização, ginástica e palestras. As sociedades, que congregam grupos específicos por idade ou sexo, reúnem-se regularmente.

Cedemos nossas instalações para reuniões de grupos comunitários, como os Alcoólicos Anônimos, Comedores Compulsivos Anônimos, Neuróticos Anônimos e outros. Mantemos um bazar para venda de roupas usadas.

A quadra de esportes é aberta aos membros da igreja, aos de suas organizações e a convidados.

Em todos os dias da semana há atividades de cunho espiritual.

NOSSO BAIRRO

O bairro onde está a nossa igreja era uma antiga fazenda. Em meados do século XIX foi adquirida por um nobre (na época o Brasil ainda era um reinado), que fez o projeto de urbanização: uma grande avenida, com ruas paralelas e perpendiculares. A avenida em que se situa nosso templo chama-se 28 de Setembro, relembrando a data em que os nascidos de escravos foram considerados livres. O bairro tem o nome de Vila Isabel, em homenagem à Princesa Isabel, filha do imperador D. Pedro II. Ela, na regência do trono, em 1888, declarou extinta a escravidão no Brasil.

Desde que foi planejado, o bairro atraiu comerciantes, moradores de classe média e indústrias. Os operários de uma fábrica de tecidos deram origem à Igreja Metodista de Vila Isabel. Grande parte das antigas residências deu lugar a modernos edifícios de apartamentos.

Vila Isabel é chamada no Rio, e mesmo no restante do Brasil, como a terra do samba, pois aqui viveram poetas e compositores que deixaram muitas músicas de sucesso. Ainda hoje, são comuns as rodas de samba nos bares. No próprio Boulevard 28 de Setembro há, durante o carnaval, um desfile de escolas de samba, uma das quais tem atualmente sua quadra de ensaios ao lado de nossa igreja.

Nos últimos anos, os morros ao redor do bairro passaram a abrigar favelas, havendo, pois, uma população carente de recursos materiais e espirituais, o que nos proporciona um vasto campo de atividades.

Em Vila Isabel existem várias igrejas evangélicas, porém a Igreja Metodista é a maior e a mais antiga de todas, mantendo boas relações com as outras igrejas, com autoridades e os diversos segmentos comunitários.

Uma palavra aos nossos visitantes

A Igreja Metodista de Vila Isabel se alegra imensamente em receber visitantes, pertençam eles a outras igrejas ou não.

Uma das grandes bênçãos de sermos cristãos é a de nos reconhecermos como irmãos e irmãs, qualquer que seja nossa origem ou procedência.

Seja bem-vindo! Nossa igreja recebe você com prazer, amor e alegria. Esperamos que enquanto estiver conosco você possa experimentar nossa amizade.

Que este tempo que passarmos juntos seja lembrado por nós e por você como uma oportunidade de conhecimento e de fraternidade, um tempo em que sentimos a presença de Deus em nossas vidas.

Se você é membro de uma outra igreja, leve a ela a nossa mensagem de fraternidade. E volte quando possível! Se você não pertence a uma comunidade evangélica, fica o convite para estar outras vezes conosco e achegar-se à nossa comunhão.

Pastores da Igreja
Ronan Boechat de Amorim
Adilson Nunes Monteiro
Luciano Pereira Vergara
Rubem Lopes de Almeida.

Igreja Metodista de Vila Isabel
Boulevard 28 de Setembro, 400
20.551-031 – Rio de Janeiro (RJ)
Telefone (21) 2576-7832
www.metodistavilaisabel.org.br

Horários:
Escola Dominical: domingos 10h30min
Cultos: domingos às 9 e às 19h
terças-feiras: 20h
Quintas-feiras, 20h - Reuniões de discipulados

Pastores do Distrito do Catete

Graça e paz!
É importante mantermos os nossos dados em dia e, por isso, vez por outra temos solicitado que cada pastor aponha os seus em um folha com nome e contatos pessoais. São 11 igrejas e 28 pastores (27 ativos, 1 aposentado e sendo 3 nomeados em Ministérios Regionais Específicos). Mas alguns colegas nem sempre podem ir e há também quem jamais apareça.

Assim, eis abaixo uma relação a ser preenchida, corrigida e atualizada. Se alguém que está na lista é novo no Distrito ou você sabe que não tem recebido mensagens nossas, faça o possível para encaminhar-lhe este comunicado, para o incluirmos e ficarmos atualizados. Ao enviar dados, faça-o por e-mail e de modo completo, por favor.

Lista (1) de pastores com as respectivas igrejas ou órgão regional:

1. Antônio Faleiro (Botafogo)
2. Clovis Paradela (Botafogo)
3. Jonas Falleiro Jr. (Copacabana)
4. Gustavo Faleiro (Botafogo)
5. Ilídio Jr. (Tijuca)
6. Jorge Cruz (J. Botânico)
7. Luciano Vergara (V. Isabel)
8. Luiz Daniel (Lins)
9. Marco Antônio Oliveira (Catete)
10. Marcos Ozório (Rocinha)
11. Adilson Monteiro (V. Isabel)
12. Paulo Welte (Pastoral do Bennett)
13. Elias José (Tijuca)
14. Rubem Almeida (V. Isabel/C. Grajaú)
15. Marcelo Carneiro (Coord. do Curso de Teologia)
16. Filipe Mesquita (Catete)
17. Ricardo Lisboa (Catete/P. Miss. B. Fátima)
18. Roberto Rocha (Vidigal)
19. Rodolfo Salvato (Botafogo/P. Miss. Leblon)
20. Ronan Boechat (V. Isabel)
21. Sérgio Ovídio (Catete)
22. Weber Chaves (Copacabana)
23. Josué Vieira do Nascimento (Rocinha)
24. Orlando Amaral (Ipanema)
25. Juracy Monteiro (Aposentado)
26. Francisco Dantas (Sede Regional)
27. Douglas dos Santos Marins (J. Botânico)

Lista (2) de Igrejas e seus pastores (Atenção! Dados carecem de confirmação ou correção):


1. BOTAFOGO - 4 Pastores: Antônio Faleiro Sobrinho, Clóvis Paradela (Urca), Gustavo Faleiro, Rodolfo Salvato (Leblon)

2. CATETE - 4 Pastores: Marco Antônio Oliveira, Filipe Mesquita, Sérgio Ovídio, Ricardo Lisboa (B. Fátima)

3. COPACABANA - 2 Pastores: Weber Chaves e Jonas Falleiro Jr.

4. GAMBOA - 1 Pastor: Paulo César Lima

5. IPANEMA - 1 Pastor: Orlando Amaral

6. J. BOTÂNICO - 2 Pastores: Jorge Cruz e Douglas Marins

7. LINS - 1 Pastor: Luiz Daniel

8. ROCINHA - 2 Pastores: Marcos Ozório e Josué Vieira

9. TIJUCA - 2 Pastores: Elias José e Ilídio Jr.

10. VIDIGAL - 1 Pastor: Roberto Rocha

11. VILA ISABEL - 4 Pastores: Ronan Boechat de Amorim, Adilson Nunes Monteiro, Luciano Pereira Vergara e Rubem Lopes de Almeida (Grajaú)

Sugiro que o Pr. Ronan divulgue no blog do distrito os nomes dos pastores e suas respectivas igrejas (lista 1).

Grato a todos,

Pr. LUCIANO P. VERGARA
Secretário da CODIAM - Distrito do Catete

sábado, 23 de maio de 2009

Acerca dos 271 anos da experiência religiosa do coração aquecido de João Wesley, o fundador do movimento metodista (Ronan Boechat de Amorim)

Ao falarmos da experiência do Coração aquecido de João Wesley naquele 24 de maio de 1738 naturalmente nos recordamos do princípio do metodismo na Inglaterra naquele já distante século XVIII.

E nos lembramos da degradação moral, social, política e religiosa em que vivia a Inglaterra de então. E como em meio aquela situação uma família se destacava em levar à sério a religião, a espiritualidade e o desejo de fidelidade a Deus. Suzana Wesley, aquela mãe e cristã tão vigorosa, ética, sensível e cheia de fibra, o quanto ela foi perseverante em educar seus filhos no temor do Senhor, distinguindo-se do que era “normal em sua época”. Vemos que João Wesley, apesar de todo ensino recebido zelosa e apaixonadamente por sua mãe Suzana, começa uma busca pessoal pela sua própria experiência com Deus. Não queria ser um cristão cujas experiências com Deus fossem limitadas às vividas e recebidas da senhora sua mãe. Ele buscava intensamente ter a sua experiência pessoal e de fé com Deus.

Foi em busca dessa experiência de fé que aceitou ir como missionário na então colônia inglesa na América do Norte, de onde volta algum tempo depois profundamente humilhado, fugindo de um processo colocado na justiça contra ele por supostas práticas pastorais inadequadas.

Em Londres, procura relacionar-se com cristãos alemães chamados de “moravianos”, que eram liderados por um conde chamado Zinzendorf. Ele ficara impressionado com a fé dos moravianos durante sua viagem de ida para a Geórgia. Quando o navio era sacudido de um lado para o outro, um grupo moraviano seguia calmo e confiante. “Nós confiamos em Deus e nossas vidas estão salvas em suas mãos”, diriam mais tarde. Em Londres torna-se amigo de um pregador moraviano que estava naquela cidade preparando-se para seguir viagem para a América. Wesley e Pedro Bolher conversam por vários dias sobre a fé, a doutrina, a salvação, a certeza de ser salvo por Deus, etc... Wesley percebe que criam exatamente na mesma doutrina, mas que lhe faltava sem dúvida, aquilo que ele se ressentia de não ter tido ainda: uma forte experiência com Deus. O que acontece numa pequena reunião dos moravianos na noite de 24 de maio de 1738 quando o pregador lia um comentário escrito quase 200 anos antes por Martinho Lutero sobre o livro de Romanos.

Ele que confessa mais tarde em seu diário ter ido à tal reunião praticamente sem nenhuma vontade; mas que por volta das 20:45h quando o pregador falava sobre as mudanças realizadas por Deus na vida dos salvos, ele sentiu seu coração estranhamente aquecido (na verdade, sentiu seu coração estranhamente abrasado, ardente) pelo poder de Deus e sentiu que seus pecados estavam perdoados, que ele confiava em Deus... um grande peso saiu de sobre seus ombros e ele deixou de ser apenas um servo, passando a experimentar a maravilhosa experiência de ser filho de Deus.

Daquele 24 de maio em diante João Wesley nunca mais foi a mesma pessoa ou o mesmo pregador. Começou um movimento de discipulado de crentes dentro da Igreja Anglicana, que visava vida de oração, estudo da Palavra de Deus, desejo por santidade e dedicação à evangelização e à missões. Ao morrer em 1792, aos 89 anos de idade, calcula-se que havia 70 mil metodistas na Grã-Bretanha (Inglaterra, Escócia e Irlanda) e que pelo menos outros 70 mil já haviam morrido durante sua vida tão longeva.
Apesar de ser perseguido pelas autoridades da Igreja Anglicana por causa de seu “entusiasmo” (fervor), deixando-o não apenas sem a designação para uma paróquia, mas proibindo-o de pregar em qualquer igreja anglicana, Wesley e todos os metodistas enquanto ele viveu não deixaram de ser nem anglicanos nem metodistas. O metodismo era um movimento de santidade e evangelização dentro da Igreja Anglicana. Quando proibido de pregar em templos anglicanos, Wesley disse: “O mundo é a minha paróquia”. Sobre o porquê Deus havia levantado os metodistas ele afirmou: “Para reformar a nação, particularmente a igreja; e para espalhar a santidade bíblica por toda a terra”. Sua grande prioridade: “Nada a fazer senão salvar almas”.

Seu “entusiasmo” não foi nem irracional nem alienante. Pois levou Wesley a compreender que além de salvar a alma da pessoa do inferno, era necessário também salvar a vida das mesmas antes da morte, tirando-as de sob o poder da pobreza, do analfabetismo, do trabalho escravo, da injustiça e de todo tipo de valores e práticas que não tivessem em conformidade com a vontade de Deus. O avivamento de Wesley não era apenas no culto, mas sobretudo no dia a dia. E sua teologia do que podemos chamar hoje de “salvação integral” levou-o também a lutar contra a escravidão, os vícios, as leis e sistema prisional desumano da Inglaterra de então.

Olhando para a história desse homem que teve seu coração “estranhamente aquecido” (coração fervente) pelo poder do Espírito Santo, não temos como não reconhecer que foi um homem tremendamente usado por Deus e que ele é um testemunho explícito e vivo de que:

1 – NÃO PODEMOS NOS SATISFAZER COM EXPERIÊNCIAS ALHEIAS E COM VIDA ESPIRITUAL MEDÍOCRE – Não devemos nos satisfazer com aquilo que generosa e amorosamente recebemos de nossos pais e de nossa Igreja. É preciso buscar nossa própria experiência de fé com Deus. Não podemos ser cristãos alimentados apenas pela fé de nossos pais e pela tradição dos que nos antecederam nessa fé. É fundamental que tenhamos nossa própria experiência de fé (e pessoal) com Deus. Deus tem mais para nós do que aquilo que nossos pais podem compartilhar conosco, repassar para nós... por mais leais a Deus e à tarefa do testemunho e do ensino cristão que eles sejam.
Não podemos nos satisfazer com relações superficiais, medíocres, ritualistas e mecânicas com Deus. É necessário que o Espírito de Deus testifique em nosso próprio coração que somos filhos e filhas de Deus. E a partir daí construir uma vida de intimidade e de experiências pessoais contínuas com o Deus vivo e presente.

2 – NÃO DEVEMOS VIVER DE ACORDO COM O MEIO SOCIAL E CULTURAL, MAS DE ACORDO COM A VONTADE DE DEUS – O meio social, político, cultural, eclesiástico e teológico com certeza influem poderosamente no tipo de pessoas que somos ou seremos, nos valores que temos ou teremos e também no tipo de espiritualidade (relação com Deus) que temos. Mas nossa maior referência e influência têm de ser o Evangelho e o Espírito Santo de Deus.

O meio ambiente, cultural e social e religioso forma, deforma, conforma, reforma, formata, etc, as pessoas; mas pessoas podem questionar a formação, superar a conformação e experimentarem reforma e transformação. Particularmente se foram despertadas para a situação em que estão e encorajadas a uma mudança significativa através e por causa do amor de Deus.

Pessoas genuinamente cristãs têm o Evangelho de Jesus como “lâmpada para os pés e luz para o caminho” (Sl 119:105). De modo que têm por natureza o discernimento que nos faz sermos críticos diante das coisas, das tradições, das inovações, das repressões, dos rolos compressores dos modismos de qualquer espécie, inclusive, os modismos teológicos.

Deus tem o poder de mudar as pessoas e o meio cultural onde as pessoas vivem. Para provocar mudanças existe também o testemunho pessoal, a evangelização (que deve ser integral curando o caráter da pessoa, seus relacionamentos e os valores e estruturas da comunidade onde vive) e, sobretudo o poder do Espírito Santo que convence do pecado, guia à verdade e faz tudo novo. Os grandes e genuínos avivamentos, inclusive, têm essa finalidade: mudam as pessoas e enchem a história humana de mais graça de Deus.

3 – PEQUENOS ENCONTROS E PESSOAS SIMPLES TAMBÉM PODEM PROMOVER GRANDES MUDANÇAS – Pessoas simples, como o missionário moraviano Pedro Bolher, podem ser tremendos canais de graça e instrumentos do agir de Deus de Deus, das mudanças de Deus, das operações de Deus em pessoas, nas histórias dessas pessoas e na história da comunidade. Wesley foi, digamos, o estopim que foi aceso através da instrumentalidade de Pedro Bolher pelo “fogo” do Espírito Santo. Depois de um tempo em Londres ponde esperava para ir como missionário nas Américas não se ouviu mais esse nome. Mas assim como o muito sem Deus é sempre pouco, o pouco com Ele muito se faz; é sempre o suficiente.

4 – QUE O CAIR É DO HOMEM, MAS QUE A SALVAÇÃO PERTENCE AO SENHOR – João Wesley, um homem que confiava em seus próprios méritos, na sua sabedoria e conhecimentos, na segurança dos ritos e do tradicionalismo, foi levado por Deus à colônia inglesa na Geórgia e ali foi quebrado como um vaso nas mãos do oleiro. Foi reduzido a alguém que não tinha mais como confiar em si mesmo. Reconheceu que precisava desesperadamente do socorro do Senhor e quando clamou este aflito, Deus o ouviu, o ergueu e o tornou um instrumento de graça e salvação confiável. Não porque era grande, mas porque sua grandeza estava em depender e em obedecer a Deus em todas as coisas.

5 – PESSOAS PODEM LIDERAR PESSOAS E AJUDÁ-LAS A SEREM TRASFORMADAS POR DEUS – João Wesley nunca teve o poder de transformar as pessoas, mas nas mãos de Deus foi um grande líder que levou pessoas a colocarem suas vidas e a fé nas mãos do único e suficiente Salvador, o Senhor Jesus.

Um homem sozinho não pode mudar ninguém (ao menos para melhor!!), não pode mudar um país inteiro, não pode mudar o mundo, transformando-o num lugar melhor e mais justo para todos, mas pode, sob o poder de Deus, vislumbrar e profetizar mudanças, proclamar e promover mudanças, animar e reunir pessoas que desejam mudanças e liderar pessoas para que mudanças de fato aconteçam.

6 – QUE A IGREJA PODE SER O LUGAR DA AUSÊNCIA DE DEUS - A Igreja (a vida das pessoas crentes, o culto, os ritos, a religião cristã, etc) pode transformar-se num lugar difícil de encontrar o Deus vivo, tal como aconteceu no tempo de Jesus com o templo de Jerusalém e seus religiosos e tal como aconteceu no tempo de João Wesley, onde, segundo estudiosos, se alguém se convertesse de seus pecados os mais surpresos seriam os próprios pregadores.

Graças a Deus porque ele não desiste de seu povo, de sua igreja e que o fermento do Reino, tal como aconteceu com João Wesley e seus companheiros metodistas, leveda toda a “massa”, todo o corpo, sendo luz que vence as trevas e sal da terra. As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos. Aleluia!

7 – NADA QUE HOJE É GRANDE COMEÇOU GRANDE E TUDO QUE É GRANDE COMEÇOU PEQUENO – Foi assim como movimento dos metodistas e posteriormente com a Igreja Metodista. Começou com um, depois dois, depois dez, depois cem. Mas graças a Deus por aqueles que viram quando nada ainda havia para ver, a não ser através da fé. “Paulo plantou, Apolo regou, mas é Deus quem dá o crescimento”. Aleluia!

8 – NÃO TEMER AS ESTRUTURAS, AS PERSEGUIÇÕES E A PERDA DE PRIVILÉGIOS – João Wesley, de posse da tarefa que Deus lhe deu, enfrentou as tradições doentias, o clero corrompido e sem visão missionária, a cultura da frouxidão ética, a antipatia dos governantes, a perda de uma designação para uma igreja local e até mesmo a humilhação de ser proibido de pregar na igreja da qual era pastor, que seu pai, avôs e bisavôs eram pastores. Ele certamente sofreu, mas preferiu tomar sobre si a cruz de Cristo, não se deixou apequenar diante dos poderes das estruturas eclesiásticas, não se deixou corromper pelas dádivas de uma teologia e uma ação pastoral e missionária domesticada, mas se ressentiu de perder o papel de comensal na mesa das autoridades e os privilégios daí advindos. Ele preferiu ser fiel a Deus, ao seu chamado, à sua fé e à sua consciência. Como Daniel, ele preferiu estar com Deus na cova dos leões do que estar sem Ele na Mesa do rei e nas louvações do Palácio real.

9 – TER UMA AUTORIDADE QUE NÃO ABRE NÃO DO PODER, MAS EXERCER O PODER E A AUTORIDADE NO TEMOR DO SENHOR, COMO DESPENSEIRO DE DEUS E SERVO DOS DEMAIS E COMO QUEM ESTÁ PRONTO PAR AOUVIR E MUDAR - Depois que teve sua experiência com Deus naquele 24 de maio Wesley tornou-se crescentemente uma referência e uma autoridade espiritual e pastoral em seu país. Mas foi um homem que ouvia e que mudava de opinião, mesmo que isso doesse tanto quanto ter de arrancar o próprio fígado. Foi assim com a pregação de leigos, com a pregação de mulheres, com a ordenação de pregadores para ministrar a Ceia aos metodistas dos EUA quando não havia lá sacerdotes anglicanos para fazê-lo... Também aceitou a autonomia dos metodistas norte-americanos em relação à Igreja Anglicana... era contra tudo isso, mas Deus, através de sua mãe Suzana, de seu amigo Maxfield, e de outros próximos, o quebrava e remodelava sempre que necessário.

10 – É PRECISO CONTINUAR, SENDO CRIATIVO E REMINDO O TEMPO – João Wesley nunca se satisfez com o trabalho feito e os resultados obtidos. Não podia descansar enquanto houvesse pessoas a serem alcançadas e almas a serem aliviadas, perdoadas e salvas. Morreu aos 89 anos de idade, trabalhando, mesmo depois de ter exercido um ministério pastoral e evangelístico no qual pregou mais de 40 mil vezes, escreveu mais de 30 livros, visitou missionariamente a Irlanda 11 vezes e a Escócia 22 vezes, que viajou a cavalo mais de 4.500 milhas por ano até os seus 60 anos de idade, totalizando mais de 375.000 quilômetros, pregando e visitando. Wesley e os primeiros metodistas apoiaram a reforma do ensino que era fraco e para apenas alguns poucos privilegiados; criaram escolas para os pobres e casas de acolhida para as viúvas e órfãos pobres; apoiaram as mudanças nas leis e a reforma das prisões; lutou pela libertação dos escravos; contra o trabalho das crianças nas minas de carvão; e por uma reforma ampla e geral das leis e costumes da decaída Inglaterra do Século XVIII.

No leito, bem pouco antes de morrer escreveu ao primeiro ministro inglês de então, Wilbeforce, igualmente um metodista, para que não cessasse de lutar contra a escravidão, o mais vil pecado e vergonha sobre a face da terra. E ao invés de vangloriar-se do que fez e do legado que deixava, apenas disse: “O melhor de tudo é que Deus está conosco”.

Ainda sobre o legado que deixava, sentenciou: “Não tenho medo que o Metodismo deixe de existir. Tenho medo que ele se torne insípido”.

João Wesley, foi profundamente impactado pela sua experiência religiosa do 24 de maio de 1738, mas nunca tornou-se prisioneiro dela. Ou melhor, nunca foi homem de apenas uma única experiência com Deus. Na medida em que os anos passam daquele 1938, cada vez ele fala menos daquela experiência. Tinha outras experiências a viver e a testificar.

Como dois séculos mais tarde diria o Bispo Metodista Francis Ensley sobre aquele 24 de maio, a experiência do coração aquecido acontecida na rua Aldersgate “não livrou Wesley da luxúria, da bebedeira ou da criminalidade. Não representa a conversão aos preceitos de Cristo, ou um retorno da indiferença religiosa. Aldersgate marca uma onda contrária aos inimigos espirituais que o flagelavam. Um deles era a concepção legalista da religião que ele professava. (...) O outro inimigo espiritual foi a indiferença emocional. (...) Sua religião era antes um peso do que algo que trouxesse alívio. (...) E para uma coisa ela o inflamou: para a tarefa evangelística”.

domingo, 19 de abril de 2009

A Igreja e as pessoas portadoras de deficiência (Ronan Boechat de Amorim)






1 - LEITURAS BÍBLICAS
- 1Tm 2:1-7 e Mc 16:15-16 - A vontade de Deus é que todos sejam salvos
- At 10:1-22 - Um Deus que quebra barreiras e preconceitos
- At 10:23- 48 - Deus não faz acepção de pessoas, mas faz o bem
- 2 Sm 9:1-13 - O amor faz superar preconceitos e gera bondade
- João 9:1-12 - Para que se manifestem nele as obras de Deus
- Jó 1:13 a 2:13 - Deus é Senhor nas alegrias e nas tragédias.


2 - Quando o Amor é Maior Que o Preconceito
Em 2 Sm 9:1-13 há uma bela história de amor que vence o preconceito e as tradições e costumes que discriminam e excluem as pessoas. No texto, o rei Davi fica sabendo através de Ziba, um ex-servo do falecido Rei Saul, que um filho de Jônatas e neto de Saul estava vivo e vivia de favor na casa do rico proprietário Maquir. Mefibosete, devido a um acidente em sua infância (2Sm 4:4) tornara-se um portador de deficiência física em ambos os pés. Davi se lembra da promessa de bondade para com os descendentes de seu grande amigo Jônatas (1Sm 20:14-17) e manda buscar Mefibosete. Mefibosete compara-se a um cão morto, indigno da atenção e bondade de Davi, mas rei o coloca sob sua proteção e como parte de sua família, pois comia sempre à mesa do rei como um filho (2Sm 9:11 e 13). Davi restitui a Mefibosete todas as propriedades que haviam pertencido a Saul e ordena a Ziba que passe a trabalhar para Mefibosete, administrando as propriedades e os que trabalhavam nelas para que não falte o sustento e o conforto a Mefibosete e à sua família.

Numa época e num lugar em que a sociedade e a religião (inclusive o judaísmo) afirmavam que a pessoa portadora de deficiência era alguém que tinha uma maldição colocada por Deus, e que precisava viver isolado para não contaminar o povo de Deus, Davi prefere, por amor, ouvir a voz do seu coração para exercitar a bondade e a justiça. Podia acomodar-se aos valores e preconceitos de seu tempo e não fazer nada.

A deficiência não é da vontade de Deus, não é um castigo de Deus e não tem um sentido em si mesma. Se a deficiência tem algum sentido, é a sua superação. E a mais fantástica superação é quando as pessoas portadoras de deficiência são incluídas na vida social, tratadas com respeito e como pessoas, sentindo-se vivas e companheiras e achando que isso é bom e vale a pena. Com e apesar das deficiências.

O amor sempre rompe barreiras. O amor sempre faz diferença.


3 - Pra início de conversa.
a) Há poder em nossas palavras, tanto para abençoar e apaziguar quando para ferir e criar ódio. Qual deve ser a sensação de uma pessoa portadora de deficiência ser chamada de louca, aleijada, defeituosa ou deficiente?

b) Na prática do dia a dia, como nossa Igreja tem tratado as pessoas portadoras de deficiência? Há pessoas portadoras de deficiência em nossa igreja local? Elas se sentem acolhida, entrosadas e participantes ativas da igreja?


4 - PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA SÃO PESSOAS
Os portadores de deficiência física, motora, mental ou múltipla têm sido um grupo de pessoas que a sociedade teimava em não enxergar, mantendo-as devidamente “guardadas” (protegidas e escondidas) em casa. Hoje, graças a Deus, essa história está mudando: os portadores de deficiência estão se organizando para exigir cidadania, que começa pelos direitos constitucionais básicos de qualquer brasileiro: educação, saúde, trabalho, lazer e o direito à mobilidade, ou seja, que ruas, calçadas, elevadores, banheiros, transporte coletivo, táxi, escolas, acesso a prédios, etc, sejam adequados a eles. Muito particularmente aos portadores de deficiência física. (2)

Há também uma sensibilização de organizações e da sociedade em favor dos portadores de deficiência, afinal com o número significante de portadores de deficiência em nosso país, naturalmente somos família, parentes e amigos de algum deles. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima a existência do seguinte quadro mínimo e crescente no Brasil: 5% da população são portadores de deficiência mental; 2% são portadores de deficiência física; 2% são portadores de deficiência auditiva; 1% são portadores de deficiência visual; e 1% são portadores de deficiência múltipla.

Além do mais, o país está descobrindo que as pessoas portadoras de deficiência são consumidoras como as demais e o mercado está atrás desse grupo especial de consumidores, adequando-se às necessidades especiais que eles têm. O país está descobrindo que sai mais barato aos “cofres públicos” inserir com leis e incentivos fiscais os portadores de deficiência do que sustentá-los com pensões da previdência social.

Ou seja, estamos descobrindo que os portadores de deficiência, antes de serem deficientes, são pessoas, com sonhos e medos, qualidades e pecados, e igualmente vocacionadas para a vida em sociedade e para a salvação em Jesus Cristo.

5 - DEUS QUER QUE TODOS SEJAM SALVOS
O Evangelho não conhece fronteiras. Saiu da Palestina e do judaísmo para alcançar os samaritanos e os gentios, incluindo sucessiva e crescentemente mulheres, crianças, os escravos, os pobres, negros, índios e os povos dos confins da terra.

Mas um grupo em especial não recebeu e nem tem recebido a atenção necessária por parte da Igreja: os portadores de deficiência. Ainda são poucas as igrejas que têm se despertado para acolher, evangelizar, ensinar e tornar as pessoas portadoras de deficiência participantes ativas dos cultos, das classes da Escola Dominical, dos ministérios e outras programações. Diante da história de descaso com os portadores de deficiência e dos muitos desafios missionários, poucas igrejas se deram conta da necessidade de facilitar o acesso de pessoas cadeirantes (que se locomovem em cadeiras de roda). A Igreja Metodista de Vila Isabel cujo acesso ao templo eram as escadas, construiu uma rampa e a do Jardim Botânico, cujo templo fica no segundo andar, instalou elevador. A Igreja Metodista de Irajá tem o seu culto “traduzido” em LIBRAS (Linguagem Brasileira de Sinais) para atender às pessoas surdas. Certamente há outras igrejas alargando o seu horizonte, mas ainda são bem poucas.

Deus quer que essas pessoas sejam alcançadas pelo Evangelho, que sejam salvas e batizadas, que façam parte da família da fé e sejam capacitadas a serem testemunhas do amor de Deus. Mas como crerão se não conseguirmos lhe transmitir o Evangelho? Como farão parte da família se os acessos ao nosso lugar de culto e reunião lhes impede de entrar? Como permanecerão na igreja se não temos nos educado para acolhê-las, integrá-las e torná-las parte ativa e produtiva da comunidade de fé? A nossa “casa” (nosso espaço físico, nosso grupo) deve estar adequada às necessidades especiais dos portadores de deficiência para que eles se sintam bem, para que eles se sintam parte do povo de Deus.

Ir missionariamente ao encontro das pessoas portadoras de deficiência física, evangelizá-las e adequar nossas instalações físicas e programas para atendê-las e discipulá-las não é um favor para atender ao modismo da inclusão social e nem uma concessão a um grupo que exigirá atenção especial da igreja. É missão. Jesus veio para salvar a todas as pessoas, inclusive as portadoras de deficiência.

Devemos começar imediatamente a nos preparar para evangelizar, acolher e discipular as pessoas portadoras de deficiência. Mesmo que em nossa Igreja não exista nenhuma pessoa portadora de deficiência, temos de sinalizar para a comunidade externa (para o mundo) que essas pessoas são bem-vindas em nossa Igreja. Ao construir, planejemos os acessos para todos. Inclusive salas de Escola Dominical no térreo ou elevadores e rampas para as salas noutros pavimentos. As pessoas portadoras de deficiência não podem ir aonde não conseguem entrar, não conseguem permanecer num lugar se não são percebidas e incluídas no grupo e na programação. Imaginemos uma pessoa surda participando de um de nossos cultos sem que haja o cuidado da igreja para ela possa perceber o que se passa e o que é cantado e pregado. Imaginemos uma pessoa cadeirante em nossa igreja que tenha necessidade de usar o banheiro. Se não houver instalações físicas adequadas e a atenção amorosa e solidária da igreja, melhor ficar em casa. Já é um desafio chegar à Igreja (sobretudo se tiver de pegar transporte público!), imagine chegar lá e não valer a pena, não ouvir, ver nem aprender nada. É ultrajante!!!

Se em nossa Igreja houver uma ou duas pessoas portadoras de deficiência, vamos nos aproximar dela(s) e buscar atendê-la(s) para que ela se sinta não como “um peixe fora d´água”, mas como um irmão ou irmã, parte do corpo que é enxergado, cuidado, incluído, alimentado e capacitado para ser discípulo(a) de Jesus. Se nos abrirmos para fazer missão junto às pessoas portadoras de deficiência e lado a lado com elas, uma pessoa portadora de deficiência bem atendida contará para outras, e, o Senhor nos abençoará acrescentando a nós os que vão sendo salvos. Precisamos deixar que o Espírito Santo tire as escamas de nossos olhos que nos impedem de enxergarmos as pessoas portadoras de deficiência.

Devemos nos lembrar que o Plano para Vida e Missão da Igreja nos afirma que “a evangelização, como parte da Missão, é encarnar o amor divino nas formas mais diversas da realidade humana, para que Jesus Cristo seja confessado como Senhor, Salvador, Libertador e Reconciliador. A evangelização sinaliza e comunica o amor de Deus na vida humana e na sociedade pela adoração, proclamação, testemunho e serviço”. Ou seja, devemos falar do grande amor de Deus às pessoas portadoras de deficiência, e se necessário, usar palavras. As pessoas, de fato, só conhecem a Deus através do amor. Por isso o serviço de inclusão e promoção das pessoas portadoras de deficiência é um serviço maravilhoso de evangelização.

Deus quer que todos sejam salvos. A Igreja tem a competência de ir missionariamente ao encontro de todas as pessoas.

6 - Como Conhecer os Desafios das Pessoas Portadoras de Deficiência
Precisamos ler e pesquisar. Precisamos ver, mas sobretudo precisamos ouvir e aprender. Há muitos livros publicados e tem sido diversa a publicação de reportagens e entrevistas em jornais e revistas, bem como a exibição em programas na televisão (3).

Precisamos criar na igreja uma agenda para tratarmos desse assunto. Seja na Escola Dominical, nas reuniões de ministério, palestras pelos ministérios da Ação Social e Ação Docente e Evangelização, etc... Que a igreja seja um fórum abençoado para discutir e promover o acesso físico às facilidades públicas, direito à vida e à não discriminação das pessoas com deficiência, liberdade de ação, respeito às pessoas portadoras de deficiência, igualdade dos direitos, respeito, cidadania, vida independente e inclusão na comunidade.

Visitar e conversar com pessoas portadoras de deficiência e suas famílias também é muito importante. Uma boa e franca conversa tem muito a nos ensinar como igreja e como cristãos. É boa a visita a projetos de igrejas ou Ongs que promovem a inclusão das pessoas portadoras de deficiência. Quando a gente aprende a gente se torna uma pessoa de visão mais ampla. Uma pessoa melhor, mais esclarecida e mais solidária.

Tânia Maria Silva de Almeida, coordenadora da Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (CORDE), da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, numa entrevista respondeu a algumas perguntas, das quais destacamos duas:

“O que as famílias podem fazer para ensinar a sociedade a se livrar do preconceito contra a pessoa portadora de deficiência?
Tânia – Como formadora do cidadão, a família é o núcleo da sociedade. Em nosso país é o núcleo da sociedade. Em nosso país as famílias de portadores de deficiência se organizaram em cerca de 2.500 associações, referentes às diversas áreas da deficiência, que desenvolvem ações que vão desde o atendimento direto até a conscientização da comunidade sobre as potencialidades das pessoas portadoras de deficiência. Com os avanços das políticas públicas, este segmento social tem se inserido, progressivamente, nos programas comuns aos demais cidadãos, principalmente nas escolas. E esperamos que o preconceito existente, provavelmente por desconhecimento das pessoas que não convivem com esse grupo social, se reduza, permitindo que a inclusão das pessoas portadoras de deficiência na sociedade se torne uma realidade.

O que a sociedade civil pode fazer para ajudar essas famílias?
Tânia – Portar uma deficiência independe de raça, sexo, nível sócio-econômico e cultural. Uma vez instalada no indivíduo, ela passa a fazer parte da sua condição. A sociedade civil pode incluir os portadores de deficiência em seus programas, apoiar os serviços já existentes, promover ações de voluntariado, campanhas, etc. E principalmente deve amadurecer e derrotar o preconceito”.


7 - COMO LIDAR COM AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA• Não se acanhe em fazer perguntas relacionadas às deficiências, pois a maioria das Portadoras de Deficiências não se incomodam em respondê-las; porém, se você não for muito próximo da pessoa, evite fazer perguntas íntimas;

• Dirija-se sempre ao portador de deficiência, mesmo que ao seu lado esteja um intérprete;

• Ofereça apoio sempre que verificar alguma necessidade, aguarde para que seja aceito e pergunte como você poderá ajudar;

• Não se ofenda com a recusa do auxílio oferecido. Nem sempre ele é necessário;

• Se um portador de deficiência lhe pedir algum tipo de ajuda e você não se sentir preparado para tal, sinta-se à vontade para recusar. Nessa situação, procure alguém que possa fazê-lo.


8 - PARA PENSAR
O que podemos fazer concretamente para que a nossa Igreja seja um lugar acolhedor das pessoas portadoras de deficiência?

Vamos nos dividir em grupos. Cada grupo pode propor um ou dois serviços de acolhimento e evangelização das pessoas portadoras de deficiência. Vamos depois conversar com o pastor(a) da nossa Igreja para viabilizar as melhores propostas.


9 - CONCLUINDO
A evangelização e os serviços de ação social, sociabilidade, educação cristã e discipulado, entre outros, deve estar nas orações, no planejamento e nas prioridades da Igreja. E em último caso, se a igreja não conseguir criar mecanismos e serviços par participação plena das pessoas portadoras de deficiência, que ao menos elas se sintam muito amadas pelo povo da igreja. Queremos que a Igreja seja o melhor lugar e a melhor companhia para as pessoas portadoras de deficiência. A Igreja tem de ser um pedacinho do Céu na terra. Lembre-se sempre que, independente das necessidades — especiais ou não — cada pessoa é um ser humano, com virtudes, qualidades, pecados, contradições, com sua própria personalidade e jeito de ser.

E, como acontece com qualquer pessoa, todos nós gostamos de respeito, educação e cortesia. Essa é uma regra de ouro que, seja com quem for que estivermos tratando, independente da condição física, classe social ou qualquer outro fator, faz a vida sempre melhor. “Sê tu uma bênção!” (Gn 12:2).


10 - CITAÇÕES E BIBLIOGRAFIA
(1) Embora não haja consenso, a terminologia mais adequada para nos referirmos a pessoas com algum tipo de deficiência é “pessoa portadora de deficiência”. A deficiência pode ser física, motora, sensocial ou mental ou múltipla, envolvendo mais de um tipo de deficiência. As pessoas portadoras de deficiência não gostam de ser tratadas por algumas expressões antigas que denotam preconceito e marginalização. Entre elas temos: aleijadas, defeituosas, deficientes (as pessoas embora sejam portadoras de deficiência, elas não são deficientes!!!), malucas, doidas, “mongolóides” (o correto é portadoras da Síndrome de Down), leprosas (o correto é portadoras de hanseníase!), etc...
Muitas pessoas não gostam de ser tratadas e nem de tratar as pessoas portadoras de deficiência como “pessoas portadoras de necessidades especiais”, pois argumentam que qualquer pessoa pode ter necessidades especiais. A expressão, portanto, é inadequada. Ainda falando sobre expressões, nem toda pessoa portadora de deficiência visual é cega e nem toda pessoa portadora de deficiência auditiva é surda. As expressões cega e surda podem ser usadas.

(2) MULLER, Iara - Encarando a deficiência - Editora Sinodal - 1989 - pág. 49.

(3) Há ainda alguns sites (endereços eletrônicos) que podem ser acessados na internet, entre os quais:
- http://www.cedipod.org.br - Centro de Documentação e Informação do Portador de Deficiência
- http://www.entreamigos.com.br - Entre Amigos - Rede de Informações sobre Deficiência
- http://www.pgt.mpt.gov.br/deficiente/legislacao/index.html - Página do Ministério do trabalho com a Legislação relacionada a pessoa portadora de deficiência
- http://www.mpdft.gov.br/Orgaos/PromoJ/prodide/prodide.htm - Promotoria de Justiça de Defesa do Idoso e do Portador de Deficiência.