terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Missão Jerusalém - Visitando a Fábrica de Missionários (Rubem Amorese)

Na luta contra as drogas, depois de muito tentar reprimir pontos de venda e caçar grandes traficantes, autoridades concluem que o cerne da questão está na família do drogado: “por que ele aderiu às drogas?”. Descobriram também que a mesma lógica se aplica aos distúrbios da sexualidade, à violência, à pichação de muros e a tantos outros males da sociedade moderna. Surgem, preponderantemente, de fatores patológicos existentes nos lares.

Aos cristãos a descoberta não surpreende. Sequer emociona. É resultado da aplicação da “técnica da cebola” às ciências sociais e políticas, que consiste em ir retirando camadas para chegar ao cerne. A cada descoberta, a pergunta: dá para retirar mais essa camada? Haverá algo importante mais ao centro?

Preocupado com “missões” em minha igreja, resolvi experimentar “descascar” Atos 1:8: “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra.”

Fica claro, de pronto, que a casca externa de nossa cebola é “os confins da terra”, e Jerusalém o centro. Ora, Jerusalém é meu lar, minha igreja e meu trabalho. Portanto, Jesus nos está prometendo o poder de pentecostes para “missionarmos”, também, aos nossos filhos, pais, irmãos e colegas de trabalho. Uma conclusão cristalina, mas surpreendente para crentes acostumados a identificar “missões” com outros povos e “ide” com distância.

Se tirarmos mais uma camada da cebola, o que teremos? Existe algo no subsolo de Jerusalém? Sim, chegaremos a um cristão comum, trancado em seu quarto, de rosto no chão, a suplicar ao “Senhor da seara” por redenção para seu lar, sua igreja, seus colegas de trabalho. É nesse encontro sagrado que o Senhor revelará o verdadeiro cerne das missões: seu próprio coração de pai, que guarda uma motivação e uma ação. A motivação é o amor; a ação a encarnação. E a resposta divina virá na forma de uma investidura: “vá!” É isso que nos sugerem Jo. 3:16 e Hb 1:1,2: Deus amou o mundo de tal maneira que decidiu enviar seu filho, o missionário por excelência, para “armar tenda” entre nós (Jo. 1:14).

Sim, a primeira missão cristã começa numa humilde manjedoura, e nos ensina que a encarnação é um processo de identificação, associado à renúncia. Alguém que, motivado por obediência e afeição, decide abrir mão de suas coisas, transpor imensas barreiras e nascer em nosso dia-a-dia para, juntos (se aceitarmos), acharmos o caminho de volta para o Pai, o caminho da reconciliação (2Co 5:18).

Agora já podemos explicar, a partir da técnica da cebola, como nasce um missionário. Na solitude de seu quarto, aquela alma comum — como a de uma mãe, de um pai, de um filho, de um membro de igreja — começa a pulsar na mesma freqüência do coração de Deus. Acometida do mesmo inexplicável impulso reconciliador, infectada pelo mesmo amor sacrificial, incendiada pelo mesmo desejo de transpor barreiras e ir buscar, ela se deixa ungir sacerdotisa de uma ordem de serviço. Atônita, ela ouvirá o Pai dizer: “Vá, ofereça o que eu lhe dei: perdoe como lhe perdoei; ministre como lhe ministrei; ensine o que eu lhe ensinei; discipule como você foi discipulado; ame como eu lhe amei — pois você sairá deste quarto com a missão de sua vida: a “missão Jerusalém”. Cumpra-a com a motivação e o método de quem se importa e chega perto: amor e encarnação.”

“Se você se dispuser a me ajudar a reconciliar comigo mesmo o seu cônjuge, os seus filhos, pais, amigos e irmãos, farei de você um missionário meu. Receberá poder do Espírito Santo para isso. Será minha testemunha. Em sua casa, em sua igreja e no seu trabalho. Terá, nas regiões celestiais, status de ministro.”

“A partir da sua fidelidade, poderei escolher, então, alguns dentre seus filhos e filhas para enviar aos confins da terra. E lá onde estiverem, terão o orgulho de dizer: ‘fui treinado por meus pais’.”

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